"Edvaldo Carneiro e Silva (Camisa Roxa) nasci em 07/01/1944, na Fazenda Estiva, no município de Jacobina, Estado da Bahia. Venho de uma família de vários filhos, sendo 4 homens e 5 mulheres, com o falecimento do meu pai, quando tinha 21 anos, fiquei diretamente responsável pela condução dos membros da família que ainda dependiam do apoio moral, financeiro e educação familiar.
Comecei a praticar Capoeira como divertimento, sendo, posteriormente seguido pelos meus outros irmãos. No ano de 1962, fui para cidade de Salvador, Capital do Estado da Bahia, estudar o curso científico, que equivale ao segundo grau ou ensino médio. Em 1962 iniciei o meu aprendizado na Academia do Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional. Os meus outros irmãos foram seguindo os meus passos, onde também foram aprender capoeira na Academia de Bimba.
O meu apelido (Camisa Roxa) foi colocado pelo Mestre Bimba no meu batizado. A partir daquele momento passei a usar uma camisa de cor roxa nas rodas de Capoeira que frequentava.
Joguei sempre nas rodas de Capoeira tradicionais da Bahia, como na academia de Mestre Pastinha e nas rodas dos Mestres Waldemar e Traíra na Rua Pero Vaz e, principalmente, nas rodas do Mestre Virgílio da Fazenda Grande, onde sempre era bem recebido por ser aluno do considerado Mestre Bimba e em razão dos meus conhecimentos nos fundamentos da arte de jogar capoeira.
Hoje sou Grão-Mestre da ABADÁ-CAPOEIRA, título vitalício para o qual fui escolhido, por ter semeado os primeiros grãos na formação da entidade, ser o mais velho da família, introdutor da prática da capoeira aos demais irmãos e da minha experiência na divulgação da Capoeira como manifestação de arte e cultura brasileira por vários países e continentes.
O meu título é um grau honorífico, sendo um consultor e orientador nas decisões importantes como nas graduações dos Mestrandos e Mestres, tendo como principal incumbência dar continuidade às tradições, filosofia e orientações para um melhor andamento das atividades da ABADÁ-CAPOEIRA.
Durante a minha formação na prática da capoeira vivenciei momentos memoráveis para o desenvolvimento e divulgação da capoeira, armazenando conhecimentos de grande relevância, que retratam toda uma vivência de uma época histórica da capoeira baiana, ao conviver ao lado do meu estimado MESTRE BIMBA e Mestres como Pastinha, Traíra, Caiçara, Valdemar do Pero Vaz, Canjiquinha, Cobrinha Verde, entre outros que foram baluartes e referências de capoeira até hoje.
A partir de 1964, na cidade de Salvador comecei a participar dos treinos de Capoeira para fazer parte do Grupo Folclórico da Bahia, Viva Bahia da Professora Emília Biancardi, fui fundador do Grupo Olodum e do Grupo Folclórico Olodumaré.
Em 1966 participei do espetáculo Vem Camará, nos teatros Vila Velha, Castro Alves, nesse mesmo ano me apresentei, também, na cidade do Rio de Janeiro/RJ no teatro Jovem.
Fiz a minha primeira viagem para divulgar a Capoeira no exterior 1967 em Salta na Argentina; em 1968 viajei para Los Angeles (USA) e Quito (Equador), no ano de 1969 voltei a Argentina (Buenos Aires).
Depois de ministrar aulas em diversas academias e clubes em Salvador, formei um grupo e em 1973 fiz a primeira viagem para a Europa a fim de divulgar a minha arte no exterior e nem imaginava que teria alguma importância para o engrandecimento da arte da Capoeira.
Atualmente, comando uma equipe de 40 pessoas que se apresenta no mundo inteiro em teatros, televisões, shows, encontros e seminários. Sou responsável pela coordenação da ABADÁ Capoeira na Europa, onde realizo regularmente cursos práticos de reciclagem para os instrutores e professores, e também, organizo os Jogos Europeus e Encontro da Primavera Capoeira, que é realizado de dois em dois anos na Áustria. É um evento que visa à integração e a atualização de alunos da Europa e outros Continentes através de aulas teóricas e práticas ministradas por mestres e mestrandos convidados do Brasil.
Sou um dos primeiros capoeiristas a vislumbrar um futuro melhor para a capoeira ao entender que a profissionalização e organização são objetivos fundamentais para levar mais longe e conduzir a Capoeira por todo o mundo. Hoje em qualquer país que se vá encontramos a Capoeira.
Há mais de 43 anos quando levei pela primeira vez um grupo de capoeiristas para o exterior, estava apostando tudo num projeto em que nós acreditávamos como promissor para a capoeira e capoeirista.
Na atualidade, dedico grande parte do meu tempo com pesquisas sobre capoeira, sempre em busca de novos caminhos e ampliação de minha visão de mundo ao passar as minhas experiências as gerações atuais e futuras procurando retribuir tudo que ela me ofereceu e ainda me proporciona ao longo desta minha trajetória com simplicidade, idealismo e amor pela capoeira."
Grão Mestre Camisa Roxa, 6 de novebro de 2010